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Livros no segundo andar

Eu estava na cobertura, limpando as estantes, tirando o pó e num canto, eu vi um monte de livros; Em meio a teias de aranha e poeira, estavam renomados livros de medicina, caríssimas enciclopédias e algumas fitas de videocassete empoleiradas.
Pensei: como tudo isso, que foi adquirido com tanto suor e tanto sacrifício, acabou sua trilha como um entulho coberto por uma camada espessa de poeira num canto inabitado da casa?
Quem os visse, não faria idéia do valor daqueles objetos.
Os livros de medicina de meu pai, que saiu do interior daqui da Bahia para vir estudar aqui na capital, trazendo o dinheiro que economizou por anos, para comprar os livros e exercer a profissão. Livros estes, que na mão de estudantes, viriam a ser fonte do conhecimento daqueles que salvariam milhares de vidas e fariam parte de cada uma delas.
As enciclopédias, material de estudo de minha mãe, que terminou a faculdade graças a aquelas fontes de conhecimento, e que hoje são facilmente substituídas por uma tela de computador.


E por fim, porém não menos importante, as fitas de vídeo.
Aliás, as minhas fitas de vídeo.


Ali estava reunida toda a minha infância. Videos caseiros,  desenhos animados, filmes da Disney (eu tinha quase todos os contos de fada e animações), entre outros filmes infantis.
Até hoje me lembro de cada um deles... até mesmo minhas reações de quando os assistia, com quem eu assistia, quando assistia... Se eu soubesse que acabariam naquele estado, eu não teria tido tanto cuidado ao guarda-los com tanto zelo. Mas teria assistido aquelas imagens milhões de vezes até cansar, porque até hoje eu sei que cada vez que assistir nunca será igual.
E quando eu tinha em minhas mãos uma fita totalmente vencida pela poeira e pelo tempo, senti uma certa tristeza. Porque não era uma fita qualquer.
Era um vídeo de meu aniversário de 2 anos de idade, comemorando o meu nascimento e a nova casa.
Móveis novos, piso novo, vida nova... aquilo tudo só faltava brilhar.
Eu me lembro de ter assistido aquilo diversas vezes, tentando me lembrar de qualquer detalhe daquele dia.
Eu me via, ali, pequenina, em meio a tantos rostos estranhos que nunca havia visto em toda a minha vida, que não os dos meus pais.


Agora, tudo o que foi no ínicio perdido. Os livros já não tem sua forma original; o cheiro de livro novo foi substituído por poeira, teias de aranha e pedaços de insetos; muitos deles perderam páginas; muitos deles estão mofados; muitos deles estão ilegíveis.







E tudo isso começou
 com uma luta para ganhar algo
 que mais tarde,
perderia totalmente o seu valor.




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